quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Idéias

Besouro: um herói que voa e vê Espíritos!

Eita, Brasil rico de cultura, arte e religiosidade! Um país que se forjou nos contatos - nada amistosos - entre povos totalmente diferentes. Que resultou numa sociedade altamente plural e heterogênea. E que ainda está aprendendo a lidar com toda essa diversidade.

É curioso notar como um país assim carece de heróis. Gente que represente a luta do povo, que sirva de exemplo para as conquistas e os anseios da gente. Não que eles não tenham existido. É só que poucos deles habitam a nossa memória.

No cinema, o diretor João Daniel Tikhomiroff tenta preencher essa lacuna com o filme Besouro: nasce um herói, que acaba de entrar em cartaz nos cinemas. O personagem-título é um capoeirista lendário que assombrou coronéis e fazendeiros do Recôncavo Baiano. Dizia-se que era capaz de levar a nocaute um pelotão de policiais, para sumir logo em seguida, sem deixar vestígio.

Mas o que nos inspira a escrever este texto é a forma como Tikhomiroff aborda as interações entre o mundo de cá e o de lá. O universo de Besouro é o das tradições africanas, particularmente do Candomblé. Homens e Orixás vivem em contato direto e freqüente. Rezas, sacrifícios e oferendas medeiam essa relação, vantajosa para ambas as partes.

Cabe ressaltar que, na tradição candomblecista, os Orixás não são Espíritos de pessoas falecidas. São ao mesmo tempo guardiões e representações dos elementos da natureza. Forças cósmicas que inteferem diretamente no destino dos homens. Tradicionalmente, são retratados com forma humana, mesclada com características dos elementos que personificam.

Na película, eles ganham uma representação exemplar em termos de naturalidade, expressão e relação com os homens e com a natureza de que fazem parte. Exemplar inclusive para os cineastas espíritas, atuais e potenciais, que haja por aí!

Um dos primeiros a aparecer é o temido Exu, orixá ambíguo, associado tanto a nobres quanto
terríveis realizações. No melhor estilo médium desorientado, um feirante percebe a presença da figura, confunde a entidade com uma pessoa comum que estivesse esnobando os produtos do quiosque dele, e parte pra cima do orixá! Detalhe: aos olhos da maior parte dos freqüentadores da feira, o pobre vendedor está se debatendo contra o vento!

Só quem parece compreender a "dança" do rapaz é o Besouro, ele também, capaz de ver os elementais. O capoeirista afasta o amigo e, também sem uma noção precisa a respeito de com o que está lidando, protagoniza uma luta e tanto com o Exu! Naturalmente, não acerta um único golpe, e ainda consegue demolir metade da feira na tentativa...

Ao longo da trama aparecem ainda o orientador espiritual, sempre pronto a aconselhar Besouro; a bela Iansã, a fluida Oxum, o guerreiro Ogum, o nebuloso Ossaim... Todos com uma naturalidade impactante, envolvidos em seus respectivos meios e áreas de atuação, cada um contribuindo com uma dádiva para a formação do herói.

Lá pelas tantas, tem até espaço para legítimos fenômenos de "psicapoeira"... Mas não vamos estragar as surpresas. Se ficou curioso, vai lá, prestigiar essa bela produção do cinema nacional. No geral, um bom filme, daqueles que deixam uma impressão agradável no espectador. Recomendo!


3 comentários:

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Passei aqui para dar uma espiadinha e me alimentar de boa leitura. Deixo-lhe um grande beijo e um ótimo final de semana.

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Estou de volta, como sempre faço. Desta vez, para lhe oferecer um selo de presente em SELO: BLOG INSTIGANTE, dado com muito carinho. Beijos.

Mari disse...

Estou dedicando o selo "Prêmio Dardos", que valoriza o trabalho de vocês. passe no meu blog para pegá-lo. Muita paz.
www.evangelizandocomamor.blogspot.com