quinta-feira, 31 de julho de 2008

Idéias

De Suassuna à Arte Espírita
Na Revista de Cultura Preá do Rio Grande do Norte, edição de setembro de 2005, em entrevista exclusiva com nosso estimado dramaturgo Ariano Suassuna, encontramos a seguinte passagem:

Preá – O texto da "Compadecida" permanece o mesmo de 50 anos atrás? O senhor mexeu em alguma coisa?

Ariano – Mexi muito pouco. Para esta edição comemorativa que fizeram agora, mexi um pouquinho. Vou dizer uma coisa em que eu mexi. Quando eu era novo, era muito radical. Então, algumas frases que eu coloquei lá, depois me causaram acanhamento, achei que eram uma grosseria. Tem uma cena lá, em que João-Grilo está tremendo e pede a Nossa Senhora ou a Cristo, para deixar de tremer. Aí, João-Grilo diz – "Que tremedeira esquisita, o que é isso?" Ele responde: "Isso é besteira do demônio, esse camarada é meio espírita, tem mania de fazer mágica". Achei uma grosseria com os espíritas. Então, eu cortei.

Sempre quis refletir em cima dessa arte que vem das vísceras e da religiosidade do Nordeste para saber como poderíamos fazer uma dessa com o jato espírita influenciando.

Para refletir e inovar em cima disso não precisávamos das pazes com Ariano Sussuna, já que ele mesmo diz que não é dono da cultura nordestina, nem é protagonista da resistência dela. Bastava usar da ironia, da graça, do cômico em cima da desgraça. Dos brincantes, dos jogos de roda, das cantigas cercados pela caatinga.

Mas, bem que foi bom, na sua maturidade, ter ele perdido a radicalidade contra o nosso povo espírita, que sempre me dava um desgosto de assistir o Auto da Compadecida só por conta daquela ceninha chata em que Jesus, o próprio, acusa Satanás de ter mania da gente, e viver fazendo magia.

Ainda por aqui a gente vai tecer comentários que possam analisar a nossa cultura local, e fazer conexões com nossa cultura transcendental. É incrível como tem paralelo entre as duas, e nenhuma vai sair aleijada do choque que a gente vai tentar promover, pelo contrário!

Allan Denizard

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Desvendando um mistério...

Você conhece a canção Tous les garçons et les filles? Já sei, você é péssimo em decorar nome de músicas... Então vamos lá: ela dá nome ao primeiro disco da francesa Françoise Hardy. Além disso, foi o primeiro grande sucesso da carreira dela, no começo da década de 60... Ainda não, né? Que tal assim?

Tous les garçons et les filles de mon âge
se promènent dans la rue deux par deux
tous les garçons et les filles de mon âge
savent bien ce que c'est d'être heureux


Tudo bem, você nem fala francês, nem entendeu ainda o que essa conversa mole tem a ver com o quê... Mas pode apostar que, depois de assistir a este vídeo, você vai entender exatamente aonde quero chegar:



DEPOIS DE VER O VÍDEO, SELECIONE O TRECHO ABAIXO COM O MOUSE E ENTENDA MAIS SOBRE O ASSUNTO

Sim, é isso mesmo. A nossa querida Cativar, conhecida por católicos, evangélicos e espíritas do Amapá ao Rio Grande do Sul, é uma versão. Apesar das variações com que a música é cantada pelo Brasil afora, melodia e harmonia são quase idênticas à original francesa. Só a letra não tem nada a ver. Enquanto Hardy cantava primorosamente a desilusão amorosa, a versão em português é baseada no conceito central da obra de Saint-Exupèry O Pequeno Príncipe.

Mas esse é só o primeiro passo para se desvendar um enigma que já dura décadas: quem escreveu Cativar? Pode procurar na internet. Todo mundo que já gravou a canção se detém no autor desconhecido. Mas o Espírito de Arte se propõe a derrubar essa barreira! Depois da melodia, vamos chegar ao autor da letra desse grande clássico da música cristã brasileira! Fique de olho no blog e acompanhe passo-a-passo nossa aventura!

sábado, 26 de julho de 2008

Mais

O médium e os pintores

Desde o último dia 18, o baiano Florêncio Anton encanta cearenses da capital e do interior com apresentações de pintura mediúnica. Percorreu, em uma semana, Limoeiro do Norte, Quixeramobim, Aracati e vários bairros de Fortaleza. O ritual é o mesmo em todos os lugares: pequena palestra de abertura com apresentação e explicações sobre o tema, prece inicial, música ambiente... e começa o transe.

O público observa atento a transformação de Florêncio, que leva alguns minutos. De pé, atrás de mesa organizada para a pintura, ele se enverga ligeiramente, mãos sobrepostas e braços arqueados. Um gesto característico é o sinal para que o ajudante lhe entregue a tela em branco. Os movimentos iniciais são bruscos, aparentemente desconexos. À medida que passam os minutos, os contornos ganham forma e já é possível entrever uma típica natureza-morta. Vasos com flores são muito comuns na pintura atribuída a Espíritos. Mas dividem também espaço com paisagens e retratos. Olhos fechados na maior parte do tempo, o médium termina a obra, assina e exibe o resultado à platéia, enquanto escreve algo atrás da tela.

Em média, a sessão completa leva pouco mais de uma hora. Ao final, entre dez e vinte quadros foram produzidos. As assinaturas variam bastante. "Desde sacros, dos séculos XI e XII, até modernos, como Picasso, Tarsila do Amaral e outros", explica Florêncio. Até hoje, ele contabiliza cerca de 24 mil telas, assinadas por 105 nomes ligados à pintura.

O baiano garante que tem pouca afinidade com as belas artes. Diz que quase foi reprovado na escola, duranto o Ensino Fundamental, pelo mau desempenho nas aulas de Educação Artística. E que hoje em dia, o quadro não mudou. "Num sentido técnico, meu conhecimento em artes plásticas é mínimo. Num sentido histórico, até por respeito a todos esses Espíritos que têm se utilizado da nossa faculdade, eu já conheço alguma coisa", assegura.

Durante a apresentação de ontem, no teatro Nadir Papi Saboya, o público mais uma vez saiu impressionado com o espetáculo. Pessoas de todas as idades comentavam, na saída, sobre as possíveis explicações para o que haviam acabado de ver. Aparentemente, só uma delas não via motivos para espanto: o artista plástico Roberto Galvão.

Com 36 anos de carreira e diversas exposições internacionais, o membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte foi sucinto. "As obras não são muito significativas, insignificantes até. De uma técnica profundamente elementar, espontânea, e com um resultado compatível com o tempo que ele gasta pra fazer a obra". Noutras palavras, Galvão não vê motivos para acreditar que haja, de fato, pintores famosos por trás dos quadros que saem das mãos de Anton.

Quem conversava com ele só esqueceu de perguntar o que Roberto acha do fato de a pintura ser feita de olhos fechados e até hoje, nunca ter se repetido... Pelo sim, pelo não, quem quiser, ainda pode conferir amanhã a última apresentação do médium baiano em Fortaleza (confira a agenda ao lado!)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Novas

Grande encontro da Arte Espírita nas férias

Música, teatro e poesia movimentam o principal evento de arte espírita das férias no Ceará. O V Encontro de Arte do Centro Espírita Irmão Leite acontece no Hospital Nosso Lar, dia 26 de julho, a partir das 17h. O evento traz a Fortaleza o poeta e cantador paraibano Merlânio Maia (foto). Ele divide o palco com o Grupo Espírita de Teatro Leopoldo Machado, que apresenta o espetáculo Louco É Tu, e com o Coral Infantil Cascata de Luz. Participam ainda da festa o Teatro de Bonecos Riso de Deus e o cantor Luís Verão. A entrada é gratuita!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Novas

A Mão dos Imortais no Teatro do Sesc

O Grupo Espírita de Teatro Leopoldo Machado (Lema) apresenta a peça Chico Xavier, a mão dos imortais, na próxima terça-feira, dia 22, às 20 horas, no Teatro do Sesc Emiliano Queiroz, à Avenida Duque de Caxias, 1701, em frente ao Dnocs. O evento é em prol do Grupo Espírita Auxiliadores dos Pobres. Ingressos a R$ 20,00, dentro do pacote que inclui ainda um seminário, próximo domingo, no GEAP.

Num café carioca dos anos 40, intelectuais discutem a poesia mediúnica, que divide opiniões entre literatos e admiradores da arte. As atenções se voltam para a coletânea Parnaso de Além Túmulo, do comerciante mineiro Francisco Xavier, que traz a assinatura de poetas mortos. Charlatanismo, inconsciente ou mediunidade? Da conversa a debates e desentendimentos, os amigos degustam xícaras de café DuBão, servido pelo carismático e atrapalhado garçom Perácio. Ao longo da trama, fatos marcantes da vida do médium mineiro trazem ao palco a sensibilidade e a emoção que marcaram sua vida. O texto é do jornalista Romário Fernandes, com direção de Reginauro Sousa e pesquisa do oficial-bombeiro Edir Paixão e da advogada Évna América, todos integrantes do Grupo Lema.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Idéias

Arte Espírita

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

Por arte espírita entende-se o conjunto de expressões de cunho artístico produzidas sob influência do espiritismo. Atualmente, o Brasil é o país que abriga a maior quantidade de artistas e de produções de arte espíritas. A Associação Brasileira de Artistas Espíritas conta hoje com 87 associados e mantém uma lista de discussão formada por quase trezentos artistas espíritas de todo o país.

Origens

As primeiras expressões artísticas identificadas com a doutrina espírita surgem em 1858, pouco após o lançamento de O Livro dos Espíritos. Observa-se nesse primeiro período uma forte identificação entre arte e mediunidade. Já na Revista Espírita de agosto daquele ano, consta a reprodução de um desenho intitulado A casa do Profeta Elias, em Júpiter[1]. A peça é do teatrólogo espírita Victorien Sardou, que a atribuiu ao espírito do ceramista francês Bernard Palissy. Três meses depois, o periódico publica relatos sobre um médium pintor norte-americano, identificado como E. Rogers. Já a edição de dezembro de 1858 traz o primeiro de uma série de textos que preencheriam ao longo dos anos a seção Poesia Espírita da revista. Trata-se do poema O despertar de um Espírito, atribuído ao espírito Jodelle, numa possível referência ao poeta francês Étienne Jodelle.

No ano seguinte, a arte mediúnica chega ao campo da música. A edição de maio de 1859 da Revista traz uma matéria sobre o fragmento de uma sonata atribuída ao espírito de Mozart, pelo médium Bryon-Dorgeval[2]. Em 1860, Kardec utiliza pela primeira vez a expressão arte espírita, propondo-a como o terceiro elemento de uma tríade formada também pela arte pagã e pela arte cristã[3]. Já nesse enunciado inicial, o sistematizador da doutrina parece mais propenso a uma arte inspirada pelo espiritismo do que a obras atribuídas a espíritos. Mesmo assim, nos anos seguintes só haveria registros esparsos de uma produção artística não-mediúnica entre os espíritas.

A arte dos espíritas

Em 1862, há o primeiro registro de uma obra de arte espírita não atribuída a espíritos. O poema O Vento, apresentado na Revista Espírita de fevereiro daquele ano como uma fábula espírita, é do francês que se identifica como C. Dombre, de Marmande. O texto usa como epígrafe uma frase de Kardec[4] e consiste numa metáfora sobre a difusão do espiritismo. Em setembro, sai o poema Peregrinações da alma de B. Jolly, herborista de Lyon, e, em outubro, nova fábula poética de C. Dombre, intitulada A Abóbora e a Sensitiva.

Em fevereiro de 1864, circula em Paris o romance A Lenda do Homem Eterno, do escritor francês Armand Durantin. O autor, que não era espírita, desenvolveu uma trama na qual um homem conhece o espiritismo após o falecimento da esposa, e acaba por se descobrir médium[5]. Kardec critica a obra por incorreções nas referências espíritas. Apesar disso, destaca o valor da iniciativa, aparentemente pioneira.[6].

Dois meses depois, o francês Jean de la Veuze publica A Guerra ao Diabo e ao Inferno, a imperícia do diabo, o diabo convertido, uma sátira à tese de que o espiritismo seria um instrumento diabólico para encaminhar pessoas ao inferno[7]. Quase simultaneamente, o espírita V. Toumier lança Cartas aos Ignorantes, filosofia do bom senso, uma síntese poética dos princípios contidos em O Livro dos Espíritos[8].

Ainda naquele ano, em outubro, o quadro Cena do interior de camponeses espíritas participa de exposição na cidade francesa de Anvers. Não há registro sobre a autoria da peça, que retrata uma sessão mediúnica numa casa no campo[9].

Notas e Referências

  1. Uma réplica do desenho original, no formato 47 x 60cm, pode ser vista aqui
  2. O trecho foi encontrado em 2004, numa biblioteca londrina, e remetido à Federação Espírita Brasileira. O engenheiro Alexandre Zaghetto reconstituiu a partitura no computador. Ela pode ser acessada aqui
  3. No artigo A arte pagã, a arte cristã, a arte espírita, publicado em dezembro daquele ano, Kardec defende a arte espírita como a sucessora da arte cristã: "(...) o Espiritismo abre à arte um campo novo, imenso, e ainda inexplorado, e quando o artista trabalhar com convicção, como trabalharam os artistas cristãos, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações"
  4. "Quanto mais a crítica tem ressonância, mais pode fazer de bem, chamando a atenção dos indiferentes"
  5. Revista Espírita, fevereiro de 1864, Notícias bibliográficas, A Lenda do Homem Eterno
  6. Idem, ibidem
  7. Revista Espírita, maio de 1864, Notícias bibliográficas
  8. Idem, ibidem
  9. Revista Espírita, outubro de 1864, Variedades, Um quadro espírita na exposição de Anvers

quarta-feira, 16 de julho de 2008

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Hydesville

Let me tell you right now an interesting story
That happened in Hydesville
In a very old house, that were quite intriguing noises
That upset the Protestant Fox
At first, they thought it would be the devil
But soon the reality came out

In Hydesville
Hydesville
Once upon in Hydesville

Despite of their fear, Fox sisters investigated
And with the raps, they soon started to talk
And for every single question, they received an answer
A Spirit communicated with them

Spiritual communication
Spiritual communication
Proving the immortality

(Original: Alexandre Azuma & Marcus Azuma // Versão: Romário Fernandes & Anthony Baldwin)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Visões do Espírito



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Currículo do Alma Sonora

2008
- Participação no CD da trilha sonora do filme nacional Bezerra de Menezes, o Diário de um Espírito com as músicas Pensamento Sideral e Tempo de Amor.

2005
- 2º lugar geral no X Festival da Canção de Araucária (PR), com a música Pensamento Sideral.
- Melhor Arranjo no X Festival da Canção de Araucária (PR), com a música Pensamento Sideral.
- Seleção para o 40º Festival de Música de Paranavaí (PR), com a música Canção de amor ao Planeta.

2004
- 1º lugar geral no Festival de Música Instrumental e da Canção da Ilha, em Florianópolis (SC).

2003
- 1º lugar geral no 38º Festival de Música de Paranavaí (PR) com a música Pensamento Sideral.

2002
- Seleção para o 24º Festival de Música Cidade Canção de Maringá (PR), com a música Pensamento Sideral.

2000
- 1º lugar geral, com a música Crianças de Kosovo, e melhor música eleita pelo júri popular, com Pensamento Sideral, no 8º Festival da Canção e Encontro da Arte Espírita de Franca (SP).

1999
- Prêmio de Banda Revelação do Festival de Jovens Talentos do Paraná.

sábado, 12 de julho de 2008

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Poemas de Cruz e Sousa publicados na obra Últimos Sonetos, de 1905. Falam, respectivamente, sobre: 1) a condição do Espírito na Terra, 2) a morte e 3) o retorno à vida corporal!


Cárcere das Almas

Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!


O Grande Momento

Inicia-te, enfim, Alma imprevista,
Entra no seio dos Iniciados.
Esperam-te de luz maravilhados
Os Dons que vão te consagrar Artista.

Toda uma Esfera te deslumbra a vista,
Os ativos sentidos requintados.
Céus e mais céus e céus transfigurados
Abrem-te as portas da imortal Conquista.

Eis o grande Momento prodigioso
Para entrares sereno e majestoso
Num mundo estranho d'esplendor sidéreo.

Borboleta de sol, surge da lesma...
Oh! vai, entra na posse de ti mesma,
Quebra os selos augustos do Mistério!


Eternidade Retrospectiva

Eu me recordo de já ter vivido,
Mudo e só, por olímpicas Esferas,
Onde era tudo velhas primaveras
E tudo um vago aroma indefinido.

Fundas regiões do Pranto e do Gemido
Onde as almas mais graves, mais austeras
Erravam como trêmulas quimeras
Num sentimento estranho e comovido.

As estrelas, longínquas e veladas,
Recordavam violáceas madrugadas,
Um clarão muito leve de saudade.

Eu me recordo d'imaginativos
Luares liriais, contemplativos
Por onde eu já vivi na Eternidade!

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Trechos de cunho espírita em Grande Sertão: Veredas (18ª edição, Editora Nova Fronteira, 1984)

Compadre meu Quelemém descreve que o que revela efeito são os baixos espíritos descarnados, de terceira, fuzuando nas piores trevas e com ânsias de se travarem com os viventes – dão encosto. Compadre meu Quelemém é quem muito me consola – Quelemém de Góis. Mas ele tem de morar longe daqui, na Jijujã, Vereda do Buriti Pardo... Arres, me deixe lá, que – em endemoninhamento ou com encosto – o senhor mesmo há de ter conhecido diversos, homens e mulheres. Pois não sim? Por mim. Tantos vi, que aprendi. Rincha-Mãe, Sangue-d´Outro o Muitos-Beiços, o Rasga-em-Baixo, Faca-Fria, o Fancho-Bode, um Treciziano, o Azinhavre... o Hermógenes... Deles, punhadão. Se eu pudesse esquecer tantos nomes... Não sou amansador de cavalos! E, mesmo, quem de si de ser jagunço se entrete, já é por alguma competência entrante do demônio. Será não? Será? (p. 9)

Compadre meu Quelemém reprovou minhas incertezas. Que, por certo, noutra vida revirada, os meninos também tinham sido os mais malvados, da massa e peça do pai, demônios do mesmo caldeirão de lugar. Senhor o que acha? E o velhinho assassinado? – eu sei que o senhor vai discutir. Pois, também. Em ordem que ele tinha um pecado de crime, no corpo, por pagar. Se a gente – conforme compadre meu Quelemém é quem diz – se a gente torna a encarnar renovado, eu cismo até que o inimigo de morte pode vir como filho do inimigo. Mire veja: se me digo, tem um sujeito Pedro Pindó vizinho daqui mais seis léguas, homem de bem por tudo em tudo, ele e a mulher dele, sempre sido bons, de bem. Eles têm um filho duns dez anos, chamado Valtêi – nome moderno, é o que o povo daqui agora aprecêia, o senhor sabe. Pois essezinho, essezim, desde que algum entendimento alumiou, feito mostrou o que é: pedido madrasto, azedo queimador, gostoso de ruim de dentro do fundo das espécies de sua natureza. Em qual que judia, ao devagar, de todo bicho ou criaçãozinha pequena que pega; uma vez encontrou uma crioula benta-bêbada dormindo, arranjou um caco de garrafa, lanhou em três pontos a popa da perna dela. O que esse menino bebeja vendo, é sangrarem galinha ou esfaquear porco. – “Eu gosto de matar...” – uma ocasião ele pequenino me disse. Abriu em mim um susto; porque: passarinho que se debruça – o vôo já está pronto! Pois, o senhor vigie: o pai, Pedro Pindó, modo de corrigir isso, e a mãe, dão nele, de miséria e mastro – botam o menino sem comer, amarram em árvores no terreiro, ele nu nuelo, mesmo em junho frio, lavram o corpinho dele na peia e na taca, depois limpam a pele do sangue, com cuia de salmoura. A gente sabe, espia, fica gasturado. O menino já rebaixou magreza, os olhos entrando, carinha de ossos, encaveirada, entisicou, o tempo todo tosse, tossura da que puxa secos peitos. Arre, que agora visível, o Pindó e a mulher se habituaram de nele bater, de pouquinho em pouquim foram criando nisso um prazer feio de diversão – como regulam as sovas em horas certas confortáveis, até chamam gente para ver o exemplo bom. Acho que esse menino não dura, já está no blimbilim, não chega para a quaresma que vem... Uê-Uê, então?! Não sendo como compadre meu Quelemém quer, que explicação é que o senhor dava? Aquele menino tinha sido homem. Devia, em balanço, terríveis perversidades. Alma dele estava no breu. Mostrava. E, agora, pagava. Ah, mas, acontece, quando está chorando e penado, ele sofre igual fosse um menino bonzinho... Ave, vi de tudo, neste mundo! Já vi até cavalo com soluço... – o que é a coisa mais custosa que há. (p. 12)

Eu gosto muito de moral. Raciocinar, exortar os outros para o bom caminho, aconselhar a justo. Minha mulher, que o senhor sabe, zela por mim: muita reza. Ela é uma abençoável. Compadre meu Quelemém sempre diz que eu posso aquietar meu temer de consciência, que sendo bem-assistido, terríveis bons espíritos me protegem. Ipê! Com gosto... Como é de são efeito, ajudo com meu querer acreditar. Mas nem sempre posso. O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. (p. 14)

Bom, ia falando: questão, isso que me sovaca... Ah, formei aquela pergunta, para compadre meu Quelemém. Que me respondeu: que, por perto do Céu, a gente se alimpou tanto, que todos os feios passados se exalaram de não ser – feito sem-modez de tempo de criança, más-artes. Como a gente não carece de ter remorso do que divulgou no latejo de seus pesadelos de uma noite. Assim que: tosou-se, floreou-se! Ahã. Por isso dito, é que a ida para o Céu é demorada. Eu confiro com compadre meu Quelemém, o senhor sabe: razão da crença mesma que tem – que, por todo mal, que se faz, um dia se repaga, o exato. Sujeito assim madruga três vezes, em antes de querer facilitar em qualquer minudência repreensível... Compadre meu Quelemém nunca fala vazio, não subtrata. Só que isto a ele não vou expor. A gente nunca deve de declarar que aceita inteiro o alheio – essa é que é a regra do rei! O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. (p. 21)

Às vezes penso: seria o caso de pessoas de fé e posição se reunirem, em algum apropriado lugar, no meio dos gerais, para se viver só em altas rezas, fortíssimas, louvando a Deus e pedindo glória do perdão do mundo. Todos vinham comparecendo, lá se levantava enorme igreja, não havia mais crimes, nem ambição, e todo sofrimento se espraiava em Deus, dado logo, até à hora de cada uma morte cantar. Raciocinei isso com compadre meu Quelemém, e ele duvidou com a cabeça: – “Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho...” – ciente me respondeu. (p. 54)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

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Notícia publicada na Revista Fatos e Fotos de 01/01/1973

O maior ídolo de nossa música popular e o mais famoso médium brasileiro reúnem-se num espetáculo beneficente.

Vestindo roupa branca, Roberto Carlos foi a atração principal do show promovido em São Paulo pela Comunhão Espírita de Uberaba, Minas Gerais, para divulgar o mais recente livro de Chico Xavier e recolher fundos para organizações assistenciais. A apresentação chegou ao clímax quando o cantor e o médium distribuíram centenas de flores a seus admiradores.

Quando o médium Chico Xavier subiu ao palco do Ginásio Pacaembu, em São Paulo, para abraçar Roberto Carlos, os quase quatro mil assistentes do show do cantor entraram em delírio, aplaudindo os dois.

O Rei era o convidado principal do show organizado pela Comunhão Espírita Cristã de Uberaba, que reuniu os seus congregados em São Paulo para a promoção do livro de Chico Xavier, A vida continua, inspirado no qual Roberto Carlos pretende compor uma série de músicas, que futuramente poderão formar a trilha sonora de um filme sobre o médium.

Quebrando a rotina, Roberto Carlos usou roupa branca no show. Até agora, o Rei sempre preferia roupas pretas, de couro, com muitos colares.

No final, enquanto a platéia aplaudia, pedindo a volta de Roberto Carlos ao palco, o cantor, nos bastidores, discutia com o ator Dionísio Cruz a realização de um filme sobre a vida de Chico Xavier. Nada ficou acertado, mas tanto o cantor como o ator consideraram boa a idéia de filmar a vida do médium e contar como ele opera as suas curas, em Uberaba, onde mora.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

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Trecho do livro A Maçã no Escuro, de Clarice Lispector (1961)

Oh, tivesse tido mais tempo, e nada precisava ser assim precipitado! pensou desolada abanando a cabeça. Poderia até ter mandado buscar alguma fazenda em Vila para cortar um vestido novo. Mas quanto tempo esse homem ficaria no sítio? E a morte? não, ela não tinha tempo, o tempo era curto, os pás­saros voando longe pareciam esperar sem pressa que ela se reunisse a eles. Eles, eles que não tinham pressa, eles que ti­nham a certeza. E que voavam esperando. Esperando que ela se reunisse àquela serena e perturbadora liberdade...

A moça, com os sapatos apertados, estremeceu com medo de si própria. Tinha medo de se purificar tanto que não pre­cisasse de mais nada. Como imaginar um ser que não precisasse de nada? era monstruoso. “Não quero progredir”, disse tei­mosa, lembrando-se da frase de um espírita que queria muito o progresso. Mas que sobraria dela, com o despojamento do pro­gresso? sobraria todo um corpo, sobrariam os desejos, e tanta poeira. Que faria sua alma liberta, sem um corpo onde existir? Doeria nas janelas até que as pessoas vivas dissessem: que dia de vento. E no verão ela seria o mal-estar das noites presas dentro dos jardins.

Foi então que ali em pé, no meio das milhares de batidas despercebidas de um coração que estava tão bem ligado à própria função, soou aquela pancada mais profunda que ela conhe­cia como se conhecesse alguém: uma pancada funda e oca como se o coração pudesse rolar para um abismo. E como sempre ela se perguntou: mas seria isso doença ou vida? No meio de mil palpitações de borboleta, aquela pancada trágica... Vou ao médico, resolveu com uma avidez de gulosa, vou ao médico. O frio dentro do sol arrepiou-a.

Oh, mas mesmo assim, até agora a vida não era grave — pois ela possuía um corpo onde se queixar, ia a um coração, tinha cólicas mensais, tinha um corpo onde ela acontecia. Mas depois? depois? A moça espírita desconfiava não ser tão ape­nas um pensamento que alguém adivinharia no ar e que cha­maria, segundo ela, de inspiração. Não lhe bastaria, na liberta­ção, espreitar impaciente a madrugada para aproveitar-se sorra­teira e astuciosa dessa concretização de luz — e ser. Nem lhe bastaria olhar o céu seco durante dias na esperança de incorpo­rar-se à chuva para poder chorar. Habituara-se demais à vida, estava acostumada com certos confortos mínimos, precisava onde doer, onde sangrar se cortasse um dedo. Oh Deus, por que me escolheste para ser espírita e para compreender e saber?, pen­sou ao peso de sua vocação, sou apenas humana, não me deis tarefa acima de minhas forças. E a morte estava claramente acima de sua capacidade.

Oh, e se fosse para ser mal-assombrada — se é que espe­ravam que o fosse, e ela não sabia ao certo o que esperavam dela — então precisaria pelo menos de uma casa inteira, e de mais de um andar, calculou com minúcia. E que as portas se abrissem pela sua ausência de mão, que os passos soassem pela sua falta de pés — mas... mas tudo isso apenas acionado pela memória? Como seria difícil a sua memória. “Como é mesmo que eu tocava piano enquanto estava viva? mas como era mes­mo?”, se perguntaria. Tanto dinheiro gasto em professoras para terminar tocando com a angústia de um dedo só. Tendo como auditório uma possível mulher viva apavorada com as próprias imaginações?

Não, não, ela não pretendia assustar uma mulher com suas memórias difíceis. No fundo — refletiu ela com a mania de se preocupar de antemão com os detalhes — no fundo talvez se contentasse em arranjar o corpo de alguém onde ela pudesse dormir. E uma carne onde se explicar. Pois o que doeria, mais que tudo, seria a sua própria isenção. Por exemplo, lá estaria, como agora, a água do rio. Só que ela simplesmente não precisaria mais beber! assim como perturbava uma perna amputada que não precisa mais andar; ficaria ela com a função da perna mas sem a perna? Então — então lhe restaria contemplar a água. Mas seria ela os olhos ou a própria paisagem? E — e como ouvir? não seria ela própria o som? E, pouco a pouco, cada vez mais liberta, será que ela ao menos pensaria? Pois todo pensamento era filho de coisas, e ela não teria mais coisas. Estaria enfim livre...

terça-feira, 8 de julho de 2008

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Poemas Espíritas de Amor


O Tempo e a Distância

(Saulo Albach)

De onde vem tanto brilho no olhar
Feixes de luz, noites de luar
Como explicar tamanha vibração
E o bater tão forte do nosso coração?

Espíritos afins, sentimento sem fim
Que o tempo e a distância não vão apagar

Se agora, longe, não ouço a tua voz
Voa o pensamento e estamos a sós...
Numa estrada sem fim
Sentimento sem fim
Que o tempo e a distância
Não vão apagar...


Ikebana

(Alexandre Azuma)

Coincidência não há em encontro assim
Sob luz lirial, você surgiu pra mim
No abraço a lembrança de afagos passados
No sorriso estampado, o afeto selado

Coincidência não há em encontro assim
Sob luz lirial, você surgiu pra mim
Ciranda das vidas devolve a flor
Doce Ikebana, cabana de amor

O que foi já passou, me diz quem nunca errou
O futuro esperança, doce e anil
O que foi já passou, me diz quem nunca errou
Você me deu uma estrela e o meu dia sorriu


Constante

(Romário Fernandes)

Sempre sonhei com as estrelas
Queria chegar lá em cima, olhar pra baixo e dizer: "viu, num disse que eu conseguia?"
Sabia que mais cedo ou mais tarde chegaria lá
No ponto mais alto, simplesmente porque era lá que eu queria estar
Queria ser famoso, fazer filme, aparecer na TV

Mas agora meus sonhos vão além
Quero ir até o infinito, tocar as estrelas, enganar o tempo, vencer o espaço
Quero fazer
O que todo mundo pode
Mas pouca gente crê

Mas eu não posso fazer só
Só se for pra perder o juízo!
Pra chegar lá é preciso ter um porto
Uma base, uma constante que me permita voar sem perder o rumo
Que me deixe criar, pensar, romper todos os limites
Sem esquecer quem sou, nem por que vim

Preciso de alguém que me guie
Que seja força, descanso, resposta
Motivo, destino, meta e caminho
Pra que eu nunca me sinta sozinho
Nem ache que se chega só a lugar algum

E com esse alguém quero compartilhar
Dias, noites e tempestades
Quero dividir a própria eternidade
Vivendo mil vidas ao seu lado
Como um eterno namorado
Que não cansa nunca de amar

segunda-feira, 7 de julho de 2008

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Poema Jesus ou Barrabás?, do Parnaso de Além-Túmulo, atribuído ao Espírito de Olavo Bilac

Sobre a fronte da turba há um sussurro abafado.
A multidão inteira, ansiosa se congrega,
Surda à lição do amor, implacável e cega,
Para a consumação dos festins do pecado.

“Crucificai-o!” — exclama... Um lamento lhe chega
Da Terra que soluça e do Céu desprezado.
“Jesus ou Barrabás?” — pergunta, inquire o brado
Da justiça sem Deus, que trêmula se entrega.

Jesus! Jesus!... Jesus!... — e a resposta perpassa
Como um sopro cruel do Aquilão da desgraça,
Sem que o Anjo da Paz amaldiçoe ou gema...

E debaixo do apodo e ensangüentada a face,
Toma da cruz da dor para que a dor ficasse
Como a glória da vida e a vitória suprema.

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Crônica publicada na Gazeta de Notícias, por Machado de Assis, 11 de outubro de 1885

Hão de lembrar-se da minha aventura espírita, e da promessa que fiz, de iniciar-me na nova igreja. Vão ver agora o que me aconteceu.

Fui iniciado quinta-feira, às nove horas da noite, e não conto nada do que se passou, porque jurei calá-lo, por todos os séculos dos séculos. Uma vez admitido no grêmio, preparei as malas para ir estabelecer-me em Santo Antônio de Pádua.

Claro era o meu plano. Metia-me na vila, deixava-me inspirar por potências invisíveis, predizia as coisas mais joviais ou mais melancólicas deste e do outro mundo, reunia gente, e fundava uma igreja filial. Antes de seis meses podíamos
ter ali um bom contingente.

Vejam, porém, o que me sucedeu. Era hoje que devia abalar daqui. Tudo estava pronto, malas, alma e algibeiras, quando li o código de posturas da Câmara Municipal de Santo Antônio de Pádua, que está sujeito à aprovação da Assembléia Provincial do Rio de Janeiro. Nesse código leio este ominoso artigo, o art. 113:

"Fica proibido fingir-se inspirado por potências invisíveis, ou predizer
coisas tristes ou alegres".

Caiu-me a alma aos pés. Daí a alguns minutos reli o artigo, para ver se me não enganara. Dei-o a ler ao meu criado e a dois vizinhos; todos eles leram a mesma coisa, como este acréscimo, que me escapou, que o infrator pagará de multa 50$ e terá oito dias de prisão.

Não me digam que o artigo apenas veda a simulação. Os fiscais de Santo Antônio de Pádua não podem saber quando é que a gente finge, ou é deveras inspirado. Jeremias, que lá fosse, e o seu secretário Baruch podiam dizer pérolas; iriam ambos parar à cadela porque o art. 113 não explica por onde é que se manifesta a simulação.

Desfiz tudo, as malas, a alma e as algibeiras. Peguei em mim e atirei-me à rede, com o famoso código na mão, resolvido a achar-lhe algum ponto em que lhe pegasse. Não achei nada. Ao contrário, todas as suas disposições mostram espírito precavido, delicado e justo; ao menos, é o que imagino, porque ao cabo de cinco minutos dormia a sono solto.

Acordei agora mesmo para ir jantar. Podia dizer-lhes ainda alguma coisa, mas não tenho alma para nada. Lá se foi todo o meu plano! Bárbaro código! Torturas do diabo! Aqui na Corte, a gente pode dizer, por meio de cartas de jogar, uma porção de coisas alegres ou tristes, e ainda em cima recebe dois mil-réis, ou cinco, se a notícia é excelente e a pessoa é graúda, e ninguém vai para a cadeia; ao passo que ali em uma simples vila do interior...

domingo, 6 de julho de 2008

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Crônica publicada na Gazeta de Notícias, por Machado de Assis, 05 de outubro de 1885

Mal adivinham os leitores onde estive sexta-feira. Lá vai, estive na sala da Federação Espírita Brasileira, onde ouvi a conferência que fez o Sr. M. F. Figueira sobre o espiritismo.


Sei que isto, que é uma novidade para os leitores, não o é menos para a própria Federação, que me não viu, nem me convidou; mas foi isto mesmo que me converteu à doutrina, foi este caso inesperado de lá entrar, ficar, ouvir e sair, sem que ninguém desse pela coisa.

Confesso a minha verdade. Desde que li em um artigo de um ilustre amigo meu, distinto médico, a lista das pessoas eminentes que na Europa acreditam no espiritismo, comecei a duvidar da minha dúvida. Eu, em geral, creio em tudo aquilo que na Europa é acreditado. Será obcecação, preconceito, mania, mas é assim mesmo, e já agora não mudo, nem que me rachem. Portanto, duvidei, e ainda bem que duvidei de mim.

Estava à porta do espiritismo: a conferência de sexta-feira abriu-me a sala de verdade. Achava-me em casa, e disse comigo, dentro d'alma, que, se me fosse dado ir em espírito à sala da Federação, assistir à conferência, jurava converter-me à doutrina nova.

De repente, senti uma coisa subir-me pelas pernas acima, enquanto outra coisa descia pela espinha abaixo; dei um estalo e achei-me em espírito, no ar. No chão jazia o meu triste corpo, feito cadáver. Olhei para um espelho, a ver se me via, e não vi nada; estava totalmente espiritual. Corri à janela, saí, atravessei a cidade, por cima das casas, até entrara na sala da Federação.

Lá não vi ninguém, mas é certo que a sala estava cheia de espíritos, repimpados em cadeiras abstratas. O presidente, por meio de uma campainha teórica, chamou a atenção de todos e declarou abertos os trabalhos. O conferente subiu à tribuna, traste puramente racional, levantaram-lhe um copo d’água hipotético, e começou o discurso.

Não ponho aqui o discurso, mas um só argumento. O orador combateu as religiões do passado, que têm de ser substituídas todas pelo espiritismo, e mostrou que as concepções delas não podem mais ser admitidas, por não permiti-lo a instrução do homem; tal é, por exemplo, a existência do diabo. Quando ouvi isto, acreditei deveras. Mandei o diabo ao diabo, e aceitei a doutrina nova, como a última e definitiva.

Depois, para que não dessem por mim (porque desejo urna iniciação em regra), esgueirei-me por uma fechadura, atravessei o espaço e cheguei a casa, onde... Ah! que não sei de nojo como o conte! Juro por Allan-Kardec, que tudo o que vou dizer é verdade pura, e ao mesmo tempo a prova de que as conversações recentes não limpam logo o espírito, de certas ilusões antigas.

Vi o meu corpo sentado e rindo. Parei, recuei, avancei e disse-lhe que era meu, que, se estava ocupado por alguém, esse alguém que saísse e mo restituísse. E vi que a minha cara ria, que as minhas pernas cruzavam-se, ora a esquerda sobre a direita, ora esta sobre aquela, e que as minhas mãos abriam uma caixa de rapé, que os meus dedos tiravam uma pitada, que a inseriam nas minhas ventas. Feitas todas essas coisas, disse a minha voz.

— Já lhe restituo o corpo. Nem entrei nele senão para descansar um bocadinho, coisa rara, agora que ando a sós...
— Mas quem é você?
— Sou o diabo, para o servir.
— Impossível! Você é uma concepção do passado, que o homem...
— Do passado, é certo. Concepção vá ele! Lá porque estão outros no poder, e tiram-me o emprego, que não era de confiança, não é motivo para dizer-me nomes.
Mas Allan-Kardec...

Aqui, o diabo sorriu tristemente com a minha boca, levantou-se e foi à mesa, onde estavam as folhas do dia. Tirou uma e mostrou-me o anúncio de um medicamento novo. O rábano iodado, com esta declaração no alto, em letras grandes: "Não mais óleo de fígado de bacalhau". E leu-me que o rábano curava todas as doenças que o óleo de fígado já não podia curar — pretensão de todo
medicamento novo. Talvez quisesse fazer nisto alguma alusão ao espiritismo. O que sei é que, antes de restituir-me o corpo, estendeu-me cordialmente a mão, e despedimo-nos como amigos velhos:

—Adeus, rábano!
—Adeus, fígado!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

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Poema O amor, você e algo mais, do médium Sérgio Luís, atribuído ao Espírito Ruggeri Rubens, que encerra o livro Sempre Há uma Luz, de 2001.

Não importa o que eu pense de mim, do mundo, de você.
Só que entenda que não aprendi a amar tão bem,
É arte difícil da qual nem sei conhecer.
No silêncio do meu quarto, quando todos já não sonham,
Eu me encontro aqui sonhando, pensando em te rever.
Pra ser sincero eu só não quero é perder a consciência,
Na luta entre o poder e o dever ser.
Então perco o meu rumo por não saber me controlar;
Quero todos, quero o mundo, quero você e tudo o mais,
Só amar sem perceber, e isso é difícil, quero crer que vou vencer;
Algum dia vou olhar pra trás e ver que nós vencemos
A mais dura das batalhas;
Não somos heróis de nada, a não ser de nós mesmos;
Perder tempo consigo é bem mais do que lição,
É verdade que só se encontra no íntimo do coração;
A bondade é o que desperta, somos anjos na floresta
Tentando achar luz;
Quero todos, quero o mundo, quero você e tudo mais;
O inseto tem armas, mas não fere a flor que o alimenta,
Assim serei contigo e com todos que me saciam,
A sede incontida de amar,
Minhas armas vou guardar pra mim mesmo.
A fim de que não fira os corações,
Pois quero tudo, quero o mundo, quero você e algo mais.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

The Spiritual Issue in Harry Potter

Wizardry, adventure and junky fantasy? No. Harry Potter is far more than that. Beyond the appearances, the most successful written series of the last years is a story about death. Fear, pain, fight and overcoming of death are the argument of a “children’s plot” that mesmerizes millions of adults throughout the world.

Who says it is the very author of the books, J.K. Rowling: “It's a strong central theme - dealing with death, yeah, and facing up to death!", stated her on an interview to CBC Newsworld. "My books are largely about death. They open with the death of Harry's parents. There is Voldemort's obsession with conquering death and his quest for immortality at any price (...) I so understand why Voldemort wants to conquer death. We're all frightened of it".

But she didn’t need to explain herself. An attentive reading would be enough to realise that wizardry is nothing but a background for the plot. That the difficulty of dealing with death is the real argument of Potter’s storyline. And that the narrative presents several hints for drafting a spiritualist theory appropriate for that universe.

If death is on the root of the whole thing, the immortality of the soul is certain in the magic world. “To the well-organised mind, death is but the next great adventure”, would say Albus Dumbledore, the greatest wizard of the last centuries, in the first book. And the relationship between who goes and who stays isn’t broken by death. Neither fully, nor necessarily.

The pioneer Harry Potter and the Philosopher's Stone introduces the reader to photographs with moving subjects, speaking portraits and ghosts who hang around Hogwarts School of Witchcraft and Wizardry. Alive registers of who is gone, which somehow remain among us.

Magical photographs are very similar to our modern digital frames, although they don’t need electricity to work. People on it can move, smile and wave, for instance, but they could hardly do anything else. Portraits are more complex, allowing the dead, or at least an imprint of it, to freely communicate with living people. The portrayed person is able to move amongst all the portraits placed at the same building as his. Besides, it can take a walk among all his own portraits wherever they are in the world. Although in most of time wizard portraits only “give advice or repeat catchphrases”, as stated by Rowling, there are many examples of more complex behaviors of them along the narrative.

At last, the ghosts. Only at Hogwarts, there are more than 20, "imprints of departed souls left upon the Earth", according to professor Severus Snape, in the sixth book, Harry Potter and the Half-Blood Prince. They move just like anyone else inside the Castle (actually better, since they can cross the walls…) and are able to think, speak, feel and interact. However, their condition doesn’t represent the natural destiny of deceased people: “Only wizards”, says the ghost called Nearly Headless Nick in Harry Potter and the Order of the Phoenix. "Wizards can leave an imprint of themselves upon the earth, to walk palely where their living selves once trod, but very few wizards choose that path".

Why? – ask both we and Harry before Nick’s statement. An essential question for understanding the potterian spiritualism, which we chose to introduce our second article about The Spiritual Issue in Harry Potter

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Artigo Golpe de Vista Retrospectivo, de Allan Kardec, publicado na primeira página da Revista Espírita de janeiro de 1868.

O ano de 1867 havia sido anunciado como devendo ser particularmente proveitoso ao Espiritismo, e esta previsão realizou-se plenamente. Ele viu aparecer várias obras que, sem levar-lhe o nome, popularizam seus princípios, e entre as quais lembraremos Mirette, do Sr. Sauvage; Lê Roman de l'avenir, do Sr. Bonnemère; Dieu dans Ia nature, pelo Sr. Camille Flammarion. La Raison du Spiritisme, pelo Sr. juiz de instrução Bonnamy, é um acontecimento nos anais da Doutrina, porque sua bandeira é altamente e corajosamente arvorada porum homem cujo nome, justamente estimado e considerado, é uma autoridade, ao mesmo tempo que sua obra é um protesto contra os epítetos dos quais a crítica gratifica geralmente os adeptos da idéia. Os Espíritas têm todos apreciados esse livro como o merece, e lhe compreenderam a importância. É uma resposta peremptória a certos ataques; também pensamos que eles considerarão como um dever propagá-lo no in-teresse da Doutrina.

Não tivesse o ano somente esses resultados, seria preciso felicitá-lo; mas produziu mais de efetivos. O número das sociedades ou grupos oficialmente conhecidos, é verdade, não aumentou sensivelmente; antes mesmo diminuiu em conseqüência das intrigas com a ajuda das quais procuraram miná-los, neles introduzindo elementos de dissolução; mas em contrapartida, o número das reuniões particulares ou de família cresceu numa proporção muito grande.
Além disso, é notório para todo mundo, e da própria confissão de nossos adversários, que as idéias espíritas ganharam terreno consideravelmente, assim como o constata o autor da obra da qual demos conta acima. Eles se infiltram por uma multidão de saídas; tudo a isto concorre; as coisas que, à primeira vista, ali parecem as mais estranhas, são meios com a ajuda dos quais essas idéias se fazem luz. É que o Espiritismo toca a um tão grande número de questões que é bem difícil abordar o que quer que seja sem nisso ver surgir um pensamento Espírita, de tal sorte que, mesmo nos meios refratários, essas idéias eclodem sob uma forma ou sob uma outra, como essas plantas de cores variadas que brotam através das pedras. E, como nesses meios, geralmente, rejeita-se o Espiritismo por espírito de prevenção, sem saber o que ele diz, não é surpreendente que, quando os pensamentos espíritas ali aparecem, não se os reconhece, e, então, são aclamados porque são achados bons, sem desconfiar que são do Espiritismo.

A literatura contemporânea, pequena ou grande, séria ou leviana, semeia essas idéias em profusão; ela está delas matizada, e não lhe falta absolutamente senão o nome. Se se reunissem todos os pensamentos espíritas que correm o mundo, se constituiria o Espiritismo completo. Ora, aí está um fato considerável, e um dos mais característicos do ano que acaba de se escoar. Ele prova que todos possuem dele, de si para si, elementos no estado de intuição, e que, entre seus antagonistas e ele, o mais freqüentemente, não há senão uma questão de palavras. Os que o repelem, com perfeito conhecimento de causa são aqueles que têm interesse em combatê-lo.

Mas, então, como chegar a fazê-lo conhecer para triunfar dessas prevenções? Isto é obra do tempo. É preciso que as circunstâncias o conduzam naturalmente, e pode-se con-tar para isto com os Espíritos que sabem fazê-las nascer em tempo oportuno. Estas circunstâncias são particulares ou gerais; as primeiras agem sobre os indivíduos e as outras sobre as massas. As últimas, pela sua repercussão, fazem o efeito de minas que, a cada explosão, levantam alguns fragmentos do rochedo.

Que cada Espírita trabalhe de seu lado, sem se desencorajar pela pouca importância do resultado obtido individualmente, e pense que à força de acumular grãos de areia forma-se uma montanha.

Entre os fatos materiais que assinalaram esse ano, as curas do zuavo Jacob estão em primeiro lugar; elas fizeram uma ressonância que todo o mundo conhece; e, se bem que o Espiritismo ali não haja figurado senão incidentemente, a atenção geral por isso não foi menos vivamente chamada sobre um fenômeno dos mais sérios e que a ele se liga de maneira direta. Esses fatos, se produzindo em condições vulgares, sem aparelho místico, não por um único indivíduo mas por vários, têm, por isto mesmo, perdido o caráter miraculoso que se lhes atribuía até então; eles reentraram, como tantos outros no domínio dos fenômenos naturais. Entre aqueles que os rejeitam como milagres, muitos se tornaram menos absolutos na negação do fato, e lhe admitiram a possibilidade como resultado de uma lei da Natureza desconhecida; era um primeiro passo num caminho fecundo em conseqüências, e mais de um céptico foi abalado. Certamente, todo o mundo não foi convencido, mas isto fez muito falar; disso resultou, num grande número, uma impressão profunda que fez refletir mais do que se crê; são sementes que, se não dão uma abundante colheita imediata, não estão perdidas para o futuro.

O Sr. Jacob se mantém sempre à parte de maneira absoluta; ignoramos os motivos de sua abstenção e se deve ou não retomar o curso de suas sessões. Se há intermitência em sua faculdade, como ocorre freqüentemente em semelhante caso, isto seria uma prova de que ela não se prende exclusivamente à sua pessoa, e que, fora do indivíduo, há alguma coisa, uma vontade independente.

Mas, dir-se-á, por que essa suspensão, deste o instante em que a produção desses fenômenos era uma vantagem para a Doutrina? Tendo as coisas sendo conduzidas até aqui com uma sabedoria que não se desmentiu, é preciso supor que aqueles que dirigem o movimento julgaram o efeito suficiente para o momento, e que era útil dar um tempo de parada à efervescência; mas a idéia foi lançada, e pode-se estar certo de que ela não permanecerá no estado de letra morta.

Em suma, como se vê, o ano foi bom para o Espiritismo; suas falanges recrutaram homens sérios, cuja opinião é tida por alguma coisa em um certo mundo. Nossa correspondência nos assinala, de quase toda parte, um movimento geral de opinião para essas idéias, e, coisa bizarra neste século positivo, as que ganham mais terreno são as idéias filosóficas, bem mais do que os fatos materiais de manifestação que muitas pessoas se obstinam ainda em rejeitar. De sorte que, diante da maioria, o melhor meio de fazer proselitismo é começar pela filosofia, e isto se compreende. As idéias fundamentais sendo latentes em sua maioria, basta despertá-las; são compreendidas porque possuem seus germes em si, ao passo que os fatos, para serem aceitos e compreendidos, pedem um estudo e observações que muitos não querem se dar ao trabalho de fazer.

Depois o charlatanismo, que se apoderou dos fatos para explorá-los em seu proveito, desacreditou-os na opinião de certas pessoas expondo-os à crítica; isto não podia ser assim com a filosofia que não era tão fácil de arremedar, e que, alias, não é matéria ex-plorável.
O charlatanismo, por sua natureza, é agitador e intrigante, sem isto não seria charlatanismo. A crítica, que se cuida, geralmente, pouco em ir ao fundo do poço procurar a verdade, viu o charlatanismo se exibindo, e esforçou-se para a ele ligar a etiqueta do Espiritismo; daí, contra esta palavra, uma prevenção que se apaga à medida que o Espiri-tismo verdadeiro é melhor conhecido, porque não há ninguém, que tendo-o estudado seriamente, o confunda com o Espiritismo grotesco de fantasia, que a negligência ou a malevolência procuram a aquele substituir. Foi uma reação nesse sentido que se manifestou nestes últimos tempos.

Os princípios que se acreditam com mais facilidade são os da pluralidade dos mundos habitados e da pluralidade das existências, ou reencarnação; o primeiro pode ser considerado como admitido sem contestação pela ciência e pelo assentimento unânime, mesmo no campo materialista; o segundo está no estado de intuição em uma multidão de indivíduos em que é uma crença inata; encontra numerosas simpatias, como princípio racional de filosofia, fora mesmo do Espiritismo. É uma idéia que sorri a muitos incrédulos, porque nela encontram imediatamente a solução das dificuldades que os tinham levado à dúvida. Assim esta crença tende, cada vez mais, a se vulgarizar. Mas para quem reflete, esses dois princípios têm conseqüências forcadas que conduzem em linha direta ao Espiritismo. Pode-se, pois, considerar o progresso dessas idéias como um primeiro passo pa-ra a Doutrina, uma vez que elas lhe são partes integrantes. A imprensa que sofre, sem dúvida, com o seu desconhecimento, a influência da difusão das idéias espíritas, porque estas penetram até em seu seio, se abstém em geral, senão por simpatia, pelo menos por prudência; não é quase mais de bom gosto falar dos Davenport. Dir-se-ia mesmo que ela afeta de evitar a questão do Espiritismo; se, de tempo a outro, lança algumas piadas contra seus adeptos, são como as últimas espoletas de um bosquete de artifício; mas não há mais esse fogo de mosqueteria de invectivas que se ouvia há dois anos apenas. Se bem que ela tenha feito quase tanto barulho do Sr. Jacob quanto dos Davenport, sua linguagem foi toda outra e há a anotar, que, em sua polêmica, o nome do Espiritismo não figurou senão muito acessoriamente.

No exame da situação, não é preciso considerar somente os grandes movimentos ostensivos, mas é preciso sobretudo levar em conta o estado íntimo da opinião e das causas que podem influenciá-la. Assim como dissemos em outra parte, observando-se atentamente o que se passa no mundo, se reconhecerá que uma multidão de fatos, em aparências estranhos ao Espiritismo, parecem vir de propósito para lhe abrir os caminhos. É no conjunto das circunstâncias que é preciso procurar os verdadeiros sinais do progres-so. Deste ponto de vista, a situação é, pois, tão satisfatória quanto se pode desejá-la. Disto é preciso concluir que a oposição está desarmada, e que as coisas vão doravante caminhar sem obstáculo? Guardemo-nos de crê-lo e de nos adormecermos numa seguran-ça enganosa. O futuro do Espiritismo está assegurado, sem contradita, e precisar-se-ia ser cego para disto duvidar; mas seus piores dias não passaram; ele não recebeu ainda o batismo que consagra todas as grandes idéias. Os Espíritos são unânimes para nos pressentir contra uma luta inevitável, mas necessária, afim de provar sua invulnerabilidade e sua força; dela sairá maior e mais forte; será então somente que conquistará seu lugar no mundo, porque aqueles que terão querido derrubá-lo terão preparado seu triunfo. Que os Espíritas sinceros e devotados se fortaleçam pela união e se confundam numa santa comunhão de pensamentos. Lembremo-nos da parábola das dez virgens e velemos para não sermos tomados de surpresa.

Aproveitemos esta circunstância para exprimir toda nossa gratidão àqueles de nos-sos irmãos espíritas que, como nos anos precedentes, por ocasião da renovação das as-sinaturas da Revista, nos dão novos testemunhos de sua afetuosa simpatia; estamos feli-zes com os testemunhos que nos dão de seu devotamento à causa sagrada que todos defendemos, e que é a da Humanidade e do progresso. Àqueles que nos dizem: cora-gem! diremos que não recuaremos jamais diante de nenhuma das necessidades de nossa posição, por duras que sejam. Que contem conosco como contamos, no dia da vitória, encontrar neles os soldados da véspera, e não os soldados do dia seguinte.

terça-feira, 1 de julho de 2008

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Soneto Excelsa Prática, escrito em 2001 por Romário Fernandes

Quando a desoladora problemática
Da carência, carrasca da alma hermética,
Se nos apresentar penosa e estática
Lembremos da maior lição poética

Guie-nos a caridade, perene ética,
Pregada por Jesus de forma enfática
Como superior à Lei profética
Uma vez que é do amor a excelsa prática

E qual a escuridão sombria e trágica
Feita esplêndida luz, como por mágica,
Perante esse ideal tão magnânimo

As almas corroídas pelos ácidos
Do mal hão de encontrar recantos plácidos
De onde prosseguirão com vívido ânimo!

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Letra da canção Friends To Go, escrita em 2005 por Paul McCartney. Segundo o autor, sob influência do Espírito de George Harrison.

I've been waiting on the other side
For your friends to leave so I don't have to hide
I'd prefer they didn't know
So I've been waiting on the other side
For your friends to go

I've been sliding down a slippy slope
I've been climbing up a slowly burning rope
But the flame is getting low
I've been waiting on the other side
For your friends to go

You never need to worry about me
I'll be fine on my own
Someone else can worry about me
I've spent a lot of time on my own
I've spent a lot of time on my own

I've been waiting 'till the danger passed
I don't know how long the storm is going to last
if we're going to carry on
I'll been waiting on the other side
'till your friends have gone

So tell me what I want to know
I'll be waiting on the other side
For your friends to go

Someone else can worry about me
I've spent a lot of time on my own
I've spent a lot of time on my own

I've been waiting on the other side
For your friends to leave so I don't have to hide
I'd prefer they didn't know
So I've been waiting on the other side
For your friends to go
I've been waiting on the other side
I've been waiting on the other side
For your friends to go

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Letra da canção Conseqüência, de João Alberto Freire (RJ), vencedora do 12º FECEF.

Noite na cidade tão escura, tão calada,
Tão parada, é interrompida.
Por um rasgo no vento, um colapso no tempo.
Luz vermelha cruza a avenida.

[Vem! Roda viva se vira, derrapa, sai de lado.
Vem! Tô dormindo. É mentira! Eu saí disfarçado...] x2

E Jonny no seu carro envenenado
Nem respira, olha pro lado, puxa o freio e vira.
Não sabia que essa noite era marcada
e que numa derrapada iria perder a vida.

Vem! Roda viva se vira, derrapa, sai de lado.
Vem! Tô dormindo. É mentira! Eu saí disfarçado...
Vem! Roda viva se vira, derrapa...

Jonny! Inconseqüente, delinqüente, irresponsável!
O que é que você fez com a tua vida!
O nome disso é suicídio e você tá condenado
a ficar preso aqui sem saída.

[Deus! Não me deixa aqui só! Eu tô arrependido!
Dor! Não posso me mexer! Não faz isso comigo!] x2

Ei amigo não estás desamparado. Estou aqui contigo.
Seu acidente fatal seria evitado, se me tivesse ouvido.
Mas a mecânica de Deus, que tudo vê,
Também está cuidando de você.
Você que não aprendeu pelo amor,
Saiba que a dor também é meio de aprender.

[Vai! Segue o caminho de tua existência.
Mas lembra: tudo que fazes tem sua conseqüência.] x2

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Letra da canção No Céu da Vibração, composta por Gilberto Gil em 1980, para homenagear Chico Xavier

Os homens são mortais
Todos os animais
Os vegetais também o são
Como será
Não ser assim?
Não precisar
O começo, o meio, o fim
A encarnação, Deus?
Como será
Não estar aqui nem lá
E tão somente andar ao léu
No céu da vibração?

Para os olhos, fez-se a cor
Para os ouvidos, o som
Para os corações, o fogo do amor
E para os puros, o que é bom

Só me resta agradecer
E aguardar a ocasião
De tão somente andar ao léu
No céu da vibração.