domingo, 1 de junho de 2008

Nossas músicas

O Auto da Terra do Pé Rachado

Primeiro, já estava pronta a melodia pelas mãos de nossa regente. E, seja pela nordestinidade que ela me passava, seja pela afinidade que tenho com o tema, achei que seria uma moda sertaneja perfeita.

Me passou a princípio uma tristeza de lamento por tudo que há na seca. E esse lamento tomou a melodia inteira. Mas, disseram-me os meus amigos que a música não poderia parar por aí, e eu também assim achava. Sentia que ela não havia terminado. Até porque uma música para ser espírita – temos muito essa discussão no grupo – não poderia parar em um lamento. Só que a vontade de escrevê-la para além de um lamento veio mais pela vida transbordante da própria música do que por esses argumentos de ortodoxia espírita.

Ao invés de me deter nos versículos de O Livro dos Espíritos, sentei uma tarde na casa de meu amigo querido e disse pra ele: “Devo parar aqui para escrever. Em nenhum outro canto me deixarão em paz”. Então, fui acometido por uma facilidade poética a tomar minha mão e por imagens fortes a assaltar meu Espírito, que me fizeram escrever as quatro partes que estavam faltando da música em menos de 30 minutos.

O resultado: não ouso dizer que seja minha esta obra que se lê abaixo.


O Auto da Terra do Pé Rachado
(Paula Jucá/Allan Denizard)

INTRO: Dm

PARTE I - O lamento

No calor da tarde inteira
Me despenca uma canseira
Meu Deus
Meu Deus
Nesse mar de lua cheia
Se espalhando no horizonte
Para além daquele monte
Um punhado de amigos
Tão carentes tão aflitos
Com olhos sem cor nem tom
Pai nosso
Que há?
Pai nosso
Nem consigo mais cantar
Pai nosso,
Não dá
Não posso,
Só o que faço é andar
Andar
Andar
Andar

PARTE II - A divina resposta

Eu te chamo na surdina
Meu filho, coisa mais linda
Só meu
Só meu
Ti mostro todo esse povo
Sofrendo de horrores tantos
Sangrando dos oi um pranto
Faltando fé no futuro
Sem Deus, sem força, nem muro
Pros póbi se encostar
Meu filho
Não dá
Meu filho
Nem consigo mais cantar
Meu filho
Vá lá
Ti digo
Só o que basta é amar
Amar
Amar
Amar

PARTE III - A assunção

Das estrelas do horizonte
Sou feito também da fronte
De Deus
De Deus
Vejo aqui todo o passado
Da história de minhas vidas
Em outros corpos vividas
Sofrendo nesse monturo
Trago luz para esse escuro
Pro meu povo libertar
Ti sinto
No ar
Ti sinto
O meu peito vai rachar
Ti sinto
Pulsar
Não minto
Meus irmãos hei de salvar
Salvar
Salvar
Salvar

PARTE IV - A morte do salvador

Feito um fogo bem formoso
Aquecendo nosso rosto
Viveu
Viveu
Sem ver bem como se deu
Ti vimos tal qual um Deus
Ser divino entre mortais
Das tribos dos canibais
Sofrer nos canaviais
Estirado numa cruz
Ó mestre
Não dá
Ó mestre
Eu não posso te ajudar
Ó mestre
Que há?
Faz logo
Um milagre te soltar
Não dá
Não dá
Não dá

PARTE V - A revolta dos anjos

De repente o céu se abriu
E de lá se escapuliu
Choveu
Choveu
Água e fogo em serpentina
Ouro, prata e diamante
Era velho e era infante
Falando coisas de Deus
Eram crentes e ateus
Chorando em consolação
Pai Nosso
Te vi
Pai Nosso
Não duvido mais de ti
Pai Nosso
Vivi
Tão logo
Eu passei a te sentir
Sentir
Sentir
Sentir

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